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PT sergipano precisa superar as diferenças e se fortalecer na oposição ao governo do estado


Foto: Janaína Santos

O Partido dos Trabalhadores é reconhecido por ser o partido que melhor se aproxima do que a ciência política entende por partido. A sua prática política inclui disputas que podem ser vistas como rivalidade, mas atende perfeitamente ao princípio de torná-lo mais democrático.


Em partidos, é esperado que filiados não concordem ideologicamente sobre tudo, mas que possuam um eixo aglutinador. Nesse contexto, o partido possui tendências internas que irão divergir e disputar os rumos do partido nas diferentes esferas, esse método incentiva uma busca por democracia interna, ausente na maior parte dos partidos brasileiros.


Nos partidos deve haver um eixo ideológico aglutinador que supere as divergências, no PT ele é a defesa dos direitos dos trabalhadores e o combate às desigualdades socioeconômicas. Há tendências que acreditam que negociar avanços gradativos com a elite econômica é a melhor forma, como a visão do ministro Fernando Haddad, outras defendem uma atuação mais enfática, como a visão da presidenta do PT, a deputada Gleisi Hoffmann.


Gleisi e Haddad possuem mais similaridades do que diferenças, o que permite com que ambos sejam atores políticos lidos como petistas. Ambos disputam rumos distintos, mas para o mesmo objetivo e é saudável que isso ocorra. Para quem é avesso à democracia isso pode ser compreendido como fraqueza, mas é um dos princípios basilares do PT que o fez resistir como o maior partido do Brasil.


Um partido deve sempre vislumbrar a união de diferentes setores da sociedade em sua estrutura, potencializando a capacidade de canalizar as demandas da sociedade. Quando no governo, com maior abertura para outros setores mais diversos ideologicamente. Quando na oposição, deve buscar fidelidade aos ideais e fazer contraposição ao governo.


Em Sergipe, assistimos disputas internas no PT desde sempre, chegando ao ápice da democracia interna quando a chapa do governador Marcelo Déda perdeu para a chapa encabeçada por Rogério Carvalho e Ana Lúcia, na época deputado federal e deputada estadual, respectivamente.


Por ser um partido com líderes, mas sem dono, é o barulho e o movimento da democracia, mesmo que imperfeita e limitada, que definirá os passos. É estranho assistir a isso quando na maior parte dos partidos há um ator político que escolhe quem será o quê dentro do partido e com quem ele se alia ou não, transformando filiados em uma plateia afônica.


Apesar de benéficas, deve haver um limite claro para as disputas. O correligionário não pode ser lido ou se comportar como rival político. Mas, nos bastidores do PT, tem sido crescente a confusão entre as coisas. Como no processo eleitoral de 2022, no episódio de incerteza da validade da candidatura de Eliane Aquino para a Câmara Federal, a petista decidiu prosseguir com a candidatura incerta, o que foi criticado por Camilo Daniel, filho do deputado federal João Daniel.


Naquele período, houve embates entre os dois grupos, natural para um momento de ânimos exaltados. Após a validação dos votos pelo TSE, vaza um áudio da candidata derrotada comemorando a vitória judicial, mas ponderando que “tudo bem que não é felicidade colocar João Daniel”. Caso os votos não fossem validados, um bolsonarista seria eleito deputado federal.


Outro episódio que surgiu foi uma possível intromissão do ministro Márcio Macêdo contra a indicação de Rose Rodrigues para o Incra, episódio que o fez ameaçar a imprensa local. Uma aproximação do ministro com o governador Fábio Mitidieri, PSD, e com o prefeito de Aracaju tem contribuído para o clima de incômodo.


No mês passado, o deputado federal João Daniel reclamou que, ignorando o fato do parlamentar ter enviado emendas para a construção do IFS de Poço Redondo, não foi convidado pelo ministro e correligionário Márcio Macêdo para a inauguração da Instituição no 2 de maio. O evento acabou sendo remarcado e contando com a presença dos dois petistas.


Por trás dessas ações, há queixas que são legítimas, mas que não podem ser pretexto para fragilizar a sigla. Não há como disputar espaços de poder sem que ranhuras sejam feitas, mas o partido, principalmente as lideranças, devem buscar afinar o discurso caso queiram tirar o PT sergipano da escala decrescente de espaço político que tem ocorrido. O partido saiu de uma eleição estadual na qual obteve uma excelente votação para o Executivo Estadual, mas que não viu se repetir para os demais mandatos disputados.


Na pré-campanha de 2022 o partido perdeu líderes para outros partidos. Durante a eleição viu lideranças, como prefeitos e vereadores, apoiarem candidatos de outros partidos e ideologicamente opostos ao PT. Caso as lideranças petistas queiram se manter relevantes, é necessário um plano unificado de fortalecimento da legenda. Seja para as disputas que virão no próximo ano, seja para conseguir estruturar uma militância que sempre marcou o partido.


Ao PT sergipano foi dada uma obrigação na última eleição pelos eleitores: fazer oposição. Em Sergipe, os serviços públicos estão sendo entregues ao setor privado, servidores sendo alvo de ataques e sendo desvalorizados. Caso o PT não entenda que precisa se fortalecer para o próprio bem e para fortalecer a voz de oposição local, poderá diminuir sua expressão política no estado.


Às lideranças do partido, lembro que busquem qualidade e compromisso nos novos filiados. O partido ainda não conseguiu mostrar força para ser oposição em Sergipe, diante de uma máquina governista tão forte, e para isso precisará potencializar uma renovação corajosa, por mais que isso seja incômodo muitas vezes para quem lidera.


O eixo ideológico não deve jamais ser superado pelas divergências, sejam elas ideológicas ou programáticas. A política é maior do que os políticos. Aquele que se achar superior à política, será subjugado por ela. Os bons e maus caminhos do PT foram coletivos, os erros e acertos. Não há PT forte sem que a coletividade seja preponderante.


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