A cidade de Lagarto representa um dos principais colégios eleitorais do estado de Sergipe, sendo o terceiro município com maior número de eleitores, segundo dados atuais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apesar da importância, a esquerda sergipana ainda “brinca” de fazer política na cidade.
A cidade possui um histórico político com uma presença tímida de forças de esquerda, tendo domínio político de famílias tradicionais de direita. Atualmente, há duas forças mais exitosas, as famílias Ribeiro e Reis. Caminhando numa terceira via há também a família Monteiro, que perdeu força em Lagarto desde a cassação de Valmir Monteiro (PODE) em 2019.
Das três forças citadas, não é possível identificar nenhuma com afinidade aos ideais de esquerda, inclusive, os Reis e os Ribeiros apoiaram em Brasília o governo Bolsonaro e trabalharam em Sergipe pela reeleição dele. Na última eleição, o PT formou aliança com a família Monteiro, filiando o deputado estadual Ibraim de Valmir ao PV e possibilitando sua reeleição dentro da federação graças aos votos dos petistas, o que resultou na não-eleição de professor Dudu (PT).
Em 2020, após a cassação do seu pai, Ibrain viu sua votação derreter em Lagarto, obtendo míseros 4.630 votos para prefeito, cerca de 8% dos votos válidos. Em 2022, a aliança com Rogério Carvalho (PT), que é lagartense, fez Ibrain ganhar um fôlego no município, tendo recebido 8.915 votos para sua reeleição de deputado estadual, o que representou cerca de 16% dos votos válidos para o cargo em Lagarto. A votação ficou abaixo do que o candidato petista recebeu no primeiro turno, cerca de 20 mil votos (52%), e no segundo turno, aproximadamente 32 mil votos (56%), mas diminuiu sua distância em relação às duas principais forças da cidade.
Além do apoio de Rogério ter alavancado a votação dos Monteiros, a aliança possibilitou que permanecessem com uma cadeira na Alese. Já no início do governo de Fábio Mitidieri (PSD), Ibrain trai o “contrato” com os eleitores de esquerda que possibilitaram sua eleição e, em troca de espaços no governo, passou a compor a base governista, votando a favor de todas as pautas neoliberais que vão de encontro às bases que sustentam um ideal social de esquerda.
Para justificar sua aproximação com Mitidieri, que é aliado dos Reis e Ribeiros em Lagarto, Ibrain reclamou que o PT não lhe agraciou com cargos federais em Sergipe. Como se não bastasse a sua reeleição, o parlamentar mostrou que a aliança que firmou com o PT não possui qualquer lastro ideológico e programático, logo, investir na relação configura um erro para o partido.
Em Lagarto não há uma presença pulsante de lideranças de esquerda, apesar de haver campo para isso. O último vereador eleito pelo PT em Lagarto foi Carlos da Brasília, em 2012. O PSOL se desorganizou no município e na última eleição e sequer disputou. PSB e PDT elegeram ao todo 3 vereadores na última eleição, nenhum defensor dos ideais do partido e atuam como base de sustentação da prefeita bolsonarista Hilda Ribeiro (REP).
O desenho que se coloca é de um apoio do PT à eleição da família Monteiro na disputa pelo Executivo municipal, com a possibilidade de incluir o nome de Luisa Ribeiro (PSB) na chapa. Um trabalho para fortalecer os Monteiros em Lagarto é um erro ideológico. Eleições, como bem comprova o PSOL, são uma oportunidade para alavancar quadros e construir o fortalecimento a longo prazo da legenda. A princípio, pode parecer improdutivo abrir mão de apoiar alguém com alguma tradição eleitoral, entretanto, de quem os Monteiros são aliados, do PT ou de Fábio Mitidieri?
A esquerda sergipana, mais precisamente o PT por ser hegemônico, já errou muito ao investir em alianças sem qualquer lastro programático e, mesmo assim, parece insistir na fórmula que a diminuiu. Ibrain, que votou pela facilitação das parcerias público-privadas e do aumento do Ipesaúde, já demonstra que é, na prática, aliado do PSD e não do PT, investir nessa relação é abrir mão de tentar fazer germinar em Lagarto um movimento de reação da esquerda.