
A coerência é uma virtude que, na política, muitas vezes precisa ser flexibilizada, mas sem comprometer o objetivo final. Em Sergipe, o senador Laércio Oliveira (PP) exemplifica essa contradição: ocupa cargos no governo federal enquanto faz campanha aberta contra o mesmo governo. Por outro lado, o governo Lula (PT) premia um opositor, mesmo pedindo aos seus aliados que se mobilizem em sua defesa. Ambos parecem ignorar que a incoerência pode minar seus próprios objetivos.
Laércio Oliveira, alinhado ideologicamente ao governo de Jair Bolsonaro (PL), apoiou a reeleição do ex-presidente, mesmo após os desmontes que afetaram até mesmo os interesses dos empresários — pauta central de Laércio. Após a derrota de Bolsonaro, Laércio exigiu participação em um governo que nunca apoiou e que, provavelmente, jamais apoiará. Surpreendentemente, o governo Lula aceitou essa demanda, concedendo ao senador cargos estratégicos, como a Superintendência do Ministério da Saúde em Sergipe.
Na última quarta-feira, 19, o sócio do governo Lula, o senador Laércio Oliveira, publicou uma nota vergonhosa apoiando aqueles que tentaram derrubar a democracia. Ignorando as provas apresentadas pela Polícia Federal, Laércio saiu em defesa de Jair Bolsonaro, chamando-o de inocente e minimizando a campanha do golpe de Estado. Vale lembrar, que quando Bolsonaro esteve em Sergipe, Laércio ficou a segurá-lo pela cintura numa pick-up que percorreu ruas da capital.
Antes do próximo argumento, gostaria de destacar que o Senado costuma ser casa revisora da maior parte das pautas do governo, visto que o rito predominante é que essas pautas comecem a tramitar pela Câmara Federal. Ou seja, só chega no Senado o que fora aprovado pela Câmara, e, com modificações, logo, a taxa de voto com o governo é naturalmente maior no Senado do que na Câmara.
Acessando a ferramenta de governismo do Radar Congresso, da bancada de Sergipe no Senado, Rogério Carvalho (PT) aparece tendo votado a favor do governo Lula em 96% das matérias e Alessandro Vieira (MDB) em 84%. Esses índices os colocam como aliados do governo. Já Laércio Oliveira aparece com somente 67%, um índice de oposição para o Senado.
Dessa forma, Laércio Oliveira é sócio de um governo que pretende derrubar, mas sem deixar de se beneficiar dos seus espaços. Conhecido por sua atuação contra os direitos trabalhistas, em defesa de uma lógica de empreender exploratória e de ataque às cotas raciais, não há características de afinidade ideológica entre o senador e a pauta do governo Lula.
Sem receber votos ou apoio em troca, o governo Lula fortalece em Sergipe um rival que está comprometido até a alma em derrubá-lo. Justificar a manutenção desses espaços com base em uma ideia abstrata de "governabilidade" é, no mínimo, risível. A atuação do senador sergipano visa a derrota do governo Lula, do petismo e da esquerda, tanto em Sergipe quanto no Brasil. Ao ceder cargos a Laércio Oliveira, o governo não somente falha em garantir um apoiador, como também desincentiva seus próprios aliados, que podem se sentir desmotivados a lutar por um governo que parece não valorizar sua lealdade.