Um discurso recorrente na política brasileira é que o Partido dos Trabalhadores não costuma abdicar do protagonismo para apoiar outros partidos, apesar de ser facilmente rebatido, o argumento se consolidou no imaginário. Nas eleições de 2024, em todo país, o PT se esforçou para construir alianças numa tática “generosa”, mas também questionável.
Um dos maiores marcos dessa busca do PT em dar protagonismo a aliados — ou de não os atrapalhar — foi São Paulo, a maior cidade do país. Pela primeira vez em quatro décadas o Partido dos Trabalhadores não disputou o Executivo da capital paulista, berço do partido. Tendo vencido três eleições em São Paulo, com Luiza Erundina, Marta Suplicy e Fernando Haddad, o PT e Lula (PT) ungiram o psolita Guilherme Boulos (PSOL) como seu candidato.
A aliança foi marcada por um significativo esforço político e financeiro, com mais de 44 milhões de reais destinados à campanha de Boulos. Contudo, apesar do entusiasmo que Boulos gerou no eleitorado de esquerda, ele não conquistou a confiança necessária para vencer a disputa, perdendo para um candidato notoriamente incompetente e com uma imagem pouco confiável.
Assim como em São Paulo, o PT apoiou e aportou recursos de seu próprio fundo eleitoral nas campanhas do PSOL em Belém, Macapá e Teresópolis. Ao todo, o partido de Lula enviou 45 milhões e 95 mil reais nessas campanhas, representando um “acréscimo” de 35% ao fundo eleitoral do PSOL. Em duas cidades, São Paulo e Teresópolis, a maior parte dos recursos das campanhas partiram do PT. Apesar disso, não houve um esforço nacional para unir os partidos nas disputas em cidades importantes, a exemplo de Aracaju, Teresina e Fortaleza — prioridade nacional do PT.
No mínimo, houve desleixo nas negociações entre os partidos, deixando petistas insatisfeitos com a deferência dada a um partido que, apesar de ser do campo e de ter quadros que verdadeiramente veem o PT como aliado, ainda demonstra muita resistência ao partido. É justo que o PT apoie aliados, mas é válido questionar se o custo de “pagar a festa dos outros” vale a pena, especialmente quando o retorno é incerto e sacrifica investimentos em suas próprias campanhas.