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Foto do escritorLucas Gama

Mãe Marizete: Oyá Matamba, símbolo de afro-sergipanidade


Iyalorixa Mãe Marizete, Oyá Matamba. Mãe de santo Aracajuana.
Fonte: portal do governo do estado de Sergipe

Estamos acostumados a ouvir falar de uns tais de “ Ilustres Sergipanos “, todos eles, homens, brancos, heterossexuais. Estes estão estampados por toda a cidade, seja em nomes de praças ou de ruas e até mesmo de instituições. Temos o mal costume de heroicizar todos estes homens ao passo que esquecemos de importantes mulheres que compõem a demografia sergipana, é o caso de Mãe Marizete. Mulher, Preta, Candomblecista e símbolo de resistência. Não podemos deixar de conferir a ela também esse título de Ilustre Sergipana, ainda em vida. Sua atuação e presença perpassam gerações e merece o devido respeito e reconhecimento.


Marizete Silva Lessa, mais conhecida como Mãe Marizete, nasceu na cidade de Laranjeiras, região do Vale do Cotinguiba, cidade localizada a 19 km da capital sergipana. Com seus mais de 90 anos de idade, é hoje a candomblecista mais antiga do estado de Sergipe. Foi para o candomblé ainda criança, influenciada por sua Tia-Mãe Erundina Nobre Santos, mais conhecida por Nanã, a qual a criou e ajudou a se tornar a mulher que ela é hoje.


Iyalorixa Mãe Nanã
Mãe Nanã. Fonte: Ogã Sandro de Ayrá

Iniciada aos 10 anos de idade no candomblé, Mãe Marizete colheu e ainda colhe os frutos de sua fé e religiosidade, sejam eles bons ou ruins. Em entrevista para minha página no instagram, @oabiudo, ela conta que desde pequena sofreu com o preconceito e a intolerância religiosa e relata um caso lamentável ocorrido já aqui na cidade de Aracaju, onde mora desde criança.


Ela relata o seguinte: Um grupo de estudantes pegaram um bode, o vestiram com terno e gravata junto com farofa e jogaram na porta do palácio do governo. Esse fato é narrado com bastante tristeza por Mãe Marizete, pois foi o que levou o candomblé em Sergipe sofrer fortes repressões por parte do poder público.


O caso foi narrado também para Florival José de Souza Filho, pesquisador formado pela Universidade Federal de Sergipe e está presente em sua dissertação de Mestrado em Sociologia intitulada “Candomblé na cidade de Aracaju: Território, Espaço Urbano e Poder Público”.


Imagem do trecho da dissertação de Mestrado em Sociologia de Florival  José de Souza Filho.
Trecho da dissertação de Mestrado em Sociologia de Florival José de Souza Filho.

Retomando à entrevista, Mãe Marizete relembra que toda sua infância foi dentro do Candomblé junto com sua mãe, a Mãe Nanã. Apesar dos percalços sofridos de intolerância religiosa, hoje, Mãe Marizete é muito respeitada dentro da sociedade sergipana como símbolo do candomblé no estado, ganhando diversos prêmios que a põe nesse local de prestígio, não somente dentro da sociedade aracajuana, mas também de Sergipe como um todo.


O terreiro dessa importante Mãe de Santo está localizado na Zona Oeste de Aracaju, no Bairro América, próximo ao Santuário São Judas Tadeu dos Frades Capuchinhos. O Abassá São Jorge realiza uma importante função social de acolhimento aos membros do candomblé, mas também de diversas pessoas que procuram o terreiro para serem atendidos por Mãe Marizete. O mês de dezembro é o que mais tem movimentações devido às celebrações das Orixás Iansã e Oxum, nos dias 4 e 8 de dezembro respectivamente.


Mãe Marizete faz ecoar a voz do candomblé em Sergipe pela sua história de luta e resistência, ela é símbolo de afro-sergipanidade e devemos ter orgulho dessa Ilustre Sergipana que com suor, garra, fé e punho forte mantém viva a tradição do culto afro no estado.


Nós enquanto cidadãos sergipanos devemos reconhecer a importância do candomblé em Sergipe e lutar contra qualquer tipo de intolerância religiosa, pois isso se constitui como crime para a lei, como está previsto na Constituição de 1988 e no Código Penal Brasileiro, em seus artigos 5º e 208º respectivamente.


Para os intolerantes, a força da lei!


Um salve a todo o povo de Santo em Sergipe.


 

[*] Estudante de História da Universidade Federal de Sergipe (UFS), membro do Grupo de Estudos e Pesquisas de História da África e da Diáspora Africana (GEPHADA) e criador do projeto @oabiudo no instagram.



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