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Foto do escritorAndré Carvalho

Linda Brasil: ex-assessora denuncia assédio moral e falta de diálogo no mandato


Foto: Jadilson Simões

Na última segunda-feira, 5 de junho, a ativista pela defesa da causa trans e LGBT+, Brunna Santos, veio a público se pronunciar acerca de sua saída do gabinete da deputada estadual Linda Brasil (PSOL).


O caso repercutiu após uma publicação no Instagram na qual Brunna relatou um pouco dos motivos pelos quais pediu exoneração do cargo que exercia no mandato de Linda. A ativista apontou que havia tentado dialogar com o mandato, mas sempre que o fez foi vista como uma inimiga e que não enxergava o mandato como um trabalho qualquer, potencializando o desgaste emocional.


Após a publicação, veio à tona na imprensa, no dia 6 de junho, uma carta que Brunna havia escrito no início do ano para expressar seus motivos para a saída do mandato. O Sergipense teve acesso ao documento no dia 5 de junho, entretanto, após entrar em contato com Brunna, em respeito a um pedido da autora, optamos pela não divulgação do conteúdo naquele momento.


Na carta, Brunna relata supostos abusos sofridos durante a sua atuação ao lado de Linda Brasil, por parte da parlamentar e, também, de assessores. Brunna começou a trabalhar ao lado de Linda em 2021, quando a parlamentar assumiu o mandato de vereadora de Aracaju e esteve presente nas campanhas da psolista.


Denunciando uma possível deformação entre discurso e prática, a ativista aponta que a deputada não costuma priorizar o bem estar dos funcionários, lançando mão de práticas “humilhantes” em relação aos seus assessores. Há na carta de Brunna relatos de comunicação violenta, intimidações, jornada excessiva de trabalho e outras graves situações. A carta se encontra ao fim deste artigo.


Em entrevista à rádio Fan na manhã desta quarta, 7 de junho, Brunna informou que a convivência desarmônica no trabalho a levou a um adoecimento emocional, a ativista relatou que um dos assessores de maior proximidade com a deputada rotineiramente usava de métodos de tratamento com ela e colegas que não condizem com um ambiente saudável. Ao levar o caso para Linda, em vez de escutar, acolher e compreender o relato, Linda teria o incluído na conversa, desacreditado do relato e rido. Brunna aponta que a prática diária do mandato destoa do discurso de defesa do trabalhador, do combate ao racismo e da defesa da comunidade LGBT+.


Além dos assédios morais, Brunna afirma que Linda contratou uma pessoa que a deputada já tinha conhecimento que costumava assediar a ativista. A ex-assessora relata que, por meio de um perfil falso, foi enviado para o mandato um anúncio, com fotos íntimas, sugerindo que ela estaria se prostituindo durante o período que trabalhava no mandato. Após entrar na justiça, foi descoberto que a pessoa por trás do perfil era o rapaz que Brunna já havia relatado ter sofrido assédio - só então o rapaz foi exonerado.


O radialista Narcizo Machado leu uma nota, na qual o mandato expõe um momento sensível da vida de Brunna no qual Linda havia dado suporte a ativista e que a oportunidade de emprego era uma forma de ajudá-la. No final da nota lida no ar, o mandato de Linda classifica a denúncia de Brunna, que é travesti e ativista dos direitos LGBT+, como uma tentativa de ataque à militância LGBT+.


Ao comentar a nota, Brunna relembrou um caso envolvendo a artista sergipana Isis Broken. Linda teria comparado Brunna com a artista porque a Isis denunciou que duas travestis pretas foram barradas num evento da semana da visibilidade trans, por uma pessoa ligada a Linda. Na época, Isis denunciou, mas não recebeu apoio da comunidade.

Linda entrou no ar após a entrevista de Brunna e afirmou que a denúncia da ativista foi antecedida de uma ameaça nas redes sociais de que uma bomba iria parar Sergipe - o que já apuramos não ser verdade, o storie foi publicado por uma outra pessoa. Linda ainda minimizou os relatos de Brunna, afirmando que se tratava de uma dinâmica normal de trabalho.


A deputada afirmou que a ativista teria enviado a carta para os jornalistas, fato negado por Narcizo e pelo responsável pelo site que primeiro noticiou o caso. Esse último chegou a afirmar que o envio havia partido do próprio gabinete de Linda.


A deputada sugeriu que a ativista estaria sendo usada por outras pessoas que foram demitidas pela parlamentar. Sobre a carga horária, nega ter recebido qualquer questionamento. A acusação de que Linda havia contratado alguém que sabidamente assediava a ativista, Linda tratou como uma coisa pessoal das partes envolvidas e quando a denúncia formal chegou ao gabinete, ele foi exonerado.


Rindo, Linda afirmou que Brunna não pode falar pelos 40 funcionários que atuam no mandato e que mantinha pouco contato com a ativista durante o trabalho. O radialista e alguns ouvintes apontaram um tom de desdém, o que a deputada negou e, em seguida, lançou dúvidas sobre a ativista, chegando sugerir que o motivo da demissão seria que a ex-assessora ganharia mais dinheiro na prostituição do que no mandato.


A denúncia de Brunna é gravíssima, são várias camadas de um relacionamento que, de acordo com o relato, é completamente insalubre. A nota do mandato trata o emprego que Brunna tinha como um caridade e a trata como incompetente. O início da nota da deputada expõe um fato delicado da vida da ativista. Falar de episódios passados no qual Linda havia dado suporte não permite que excessos sejam cometidos no decorrer da relação.


Insinuar que uma travesti saiu do emprego para causar ou porque ganharia mais na prostituição, mesmo com Brunna falando que a estabilidade financeira fez com que ela postergasse a demissão, é colocá-la num lugar comum e caricato que não condiz com o discurso de Linda. A deputada afirma que a denúncia é para descredibilizar sua vida política, inclusive seus planos de concorrer à prefeitura de Aracaju, mas comete contra Brunna o que acusa.


O mandato de Linda é carregado de sonhos e de esperanças da comunidade LGBT+, por isso, é fundamental que seu gabinete dê a seriedade ao caso que ele merece. Não é uma guerra de narrativa entre direita e esquerda, mas o relato de uma ativista que contribuiu com as duas vitórias eleitorais da parlamentar e que não pode ser lida ou entendida como uma inimiga da causa.


Caso a denúncia se comprove, cabe a Linda absorver as críticas que nela estão para que corrija os rumos do seu gabinete. A inabilidade da comunicação ficou evidente com o teor da nota e com a postura risonha de Linda na entrevista. Mesmo que faça parte de seu jeito, ele é inadequado quando algo tão sério está em questão.


O mandato de Linda é um marco na história política de Sergipe, entretanto, não pode ser compreendido como intocável e incriticável. Faz parte da política que questionemos ações e práticas, e ao bom político caberá escutá-las e absorver aquilo que colabore com sua evolução.


A política é incompatível com adoração sem questionamentos, quem o faz, nega a essência da política. Independentemente de quem pratica e da ideologia política, violências no ambiente de trabalho, mesmo que reflexo de um país construído numa cultura de mando, merecem ser tratadas de forma séria.


 
Carta de Brunna:

Entrevistas de Brunna Nunes e Linda Brasil





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