Nesta semana, o TRE impugnou a candidatura ao mandato de deputada federal de Eliane Aquino, PT. O motivo foi que a vice-governadora não se afastou no tempo previsto pela legislação federal dos Conselhos dos quais participava, entendendo que as leis estaduais que lhe garantem assento nos Conselhos lhe abonariam do afastamento.
A candidatura da petista responderia ao desejo dos sergipanos de ver o nome dela diretamente testado nas urnas. É sobretudo triste que um erro tão pueril tenha se constituído barreira para esse projeto. Ao mesmo tempo, não há espaço para paralisia.
Em Sergipe, há esse ano um perigo eminente de uma bancada completamente alinhada com ideais de direita, sobretudo bolsonaristas. Para quem sonhou o sonho de Eliane e para quem sonha o de Lula, PT, a vontade de mudar o país e Sergipe deve servir à missão de que a federação do partido supere a cláusula de barreira com seus candidatos.
A ausência de Eliane na disputa ceifou a esperança de que seu partido pudesse eleger dois deputados federais e colocou no lugar a incerteza de eleger um. Um desafio que exige união e maturidade de todos que compõem o PT.
Durante entrevista coletiva que concedeu nessa quarta, a petista confirmou que continuará na disputa pela certeza de que sua candidatura representa mais do que ela. Em consonância com isso, seu advogado afirmou que trabalha apenas com a possibilidade de reversão da decisão no TSE.
Se apenas um cenário é considerado, o segundo deve ser encarado de frente para entender as consequências. Continuando candidata, a possível invalidação dos seus votos não apenas a retira da disputa como também afeta a capacidade do seu partido consagrar um filiado à Câmara Federal por Sergipe.
Incerta de que seus votos serão válidos, precisaria se empenhar para que conseguisse transferir à legenda ou aos candidatos do seu partido parte das intenções de votos que conquistou. Em contrapartida, seus companheiros precisam firmar compromisso com a plataforma de ideias que Eliane representa.
É uma tarefa amarga, mas aqueles que possuem compromisso com pautas coletivas não podem se dar o direito de cruzar os braços em situações como essas. Foi assim que agiu recentemente Jackson Barreto, MDB, e como deixou de agir Ciro Gomes, PDT, no segundo turno da eleição presidencial de 2018.
Seguido a isso, é preciso fortalecer o surgimento de mais agentes políticos que comunguem dos ideais que Eliane representa. É um desafio de longo prazo que não tem sido enfrentado, e por isso, conta-se com dificuldades em momentos como este.
Com o impedimento de Eliane, não se tinha no seu entorno nenhum quadro político pronto ou em projeção capaz de dar continuidade ao projeto. Nas eleições anteriores, Eliane não amadrinhou nenhum projeto similar ao seu para a Alese ou para a Câmara de Aracaju. Logo, quando precisou de alguém não o tinha por perto.
Eliane é símbolo de potência em Sergipe e precisa, mais do que nunca, usar seu tamanho e sua força para construir um ambiente plural e de renovação, começando dentro do seu partido. É possível impactar a política com e sem mandato eletivo.
Já não há mais tempo para fazer isso no pleito desse ano, e se isso não for pensado e executado não haverá tempo para o pleito de 2024 e os subsequentes. Cito Eliane e tento lhe dar essa missão para que não se apague a vontade de ação que traz no discurso.
A política é, intrinsicamente, um ato coletivo e por isso todos aqueles que buscam transformá-la precisam se comprometer com o projeto de outros que pensem de forma similar. Na política, os interesses coletivos devem sobressair. É mais fácil silenciar uma voz do que um coro.
*Originalmente publicado no portal JL política.