top of page
  • Instagram
  • Twitter
  • Foto do escritorAndré Carvalho

Estratégia míope faz Fábio Mitidieri tropeçar

Atualizado: 15 de fev. de 2023


O candidato do PSD ao Governo de Sergipe, deputado federal Fábio Mitidieri, sempre usou o fato de ter votado em Luiz Inácio Lula da Silva e em Dilma Rousseff para tentar dissuadir o PT de lançar Rogério Carvalho candidato ao Palácio dos Despachos.

Em outra frente, o deputado fez acenos significativos ao bolsonarismo na Câmara e na formação de sua chapa. O processo de negociações entre Kassab, PSD, e Lula, PT, animou os governistas que esperavam uma aliança “vinda de cima”.

Fez sentido por um tempo que o PT e o PSD se unissem em torno de um palanque forte para Lula, porém Kassab recuou nas negociações e o PSD local não se esforçou para conquistar os petistas, enterrando as possibilidades.

Em maio de 2021, o governador Belivaldo Chagas, PSD, diminuiu a importância do PT na base governista e afirmou que descontentes teriam sinal verde para desembarcar do governo.

O discurso com ar de animosidade em relação a Lula e ao PT deu as cores da relação do governador com os petistas, culminando na saída do partido da base local no início deste ano.

Houve um cálculo político extremamente impreciso que ficou explícito no comportamento do governador e de seus aliados.

Calcularam que os feitos do Governo Belivaldo e a grande base de lideranças políticas que sustenta o governo dele seriam suficientemente confortáveis para repetir o feito da campanha de 2018 - esquecendo que lá contaram com a força do PT no palanque.

Apesar de Fábio Mitidieri ter apoiado candidatos petistas nas últimas eleições, esse parlamentar não costuma se apresentar como oposição ao bolsonarismo. Segundo o Estadão, Fábio Mitidieri votou com Bolsonaro em 72% das matérias, inclusive na reforma da Previdência.

Colaborando com a narrativa golpista da necessidade do voto impresso, Fábio Mitidieri declarou publicamente apoio ao projeto. Para não concretizar o voto, alegou “falhas” no sistema remoto.

No processo de construção da campanha de Fábio Mitidieri, a estratégia inicial foi disputar o eleitor de Lula e esperar o apoio dos bolsonaristas num segundo turno contra Rogério.

Com o baixo desempenho de Fábio nas pesquisas e a ascensão e consolidação da liderança de Valmir de Francisquinho, PL, houve uma mudança brusca dos planos, fazendo com que Fábio declarasse palanque neutro para presidente em maio deste ano.

O medo do crescimento de Valmir não permitiu que os estrategistas da campanha compreendessem que aquele movimento era acima de tudo em oposição ao governo local. Inclusive, quando associado a Bolsonaro, Valmir oscilou para baixo, evidenciando que seu desempenho não dependia do presidente.

Em suas falas, começou a defender que sua preocupação era com o futuro de Sergipe e de que a questão nacional não era problema seu, defendendo que, sendo governador, conversaria com quem fosse o presidente e de que seu palanque tem espaço para todas ideologias.

O fato é que o palanque de Fábio conseguiu afastar os lulistas que restaram com a saída do PT. Na escolha do candidato ao Senado, rifou-se o último grande lulista do grupo – JB - para dar espaço para uma candidatura bolsonarista – Laércio - , com pouca perspectiva de vitória e grandes custos de imagem. Como escrevi no meu último artigo, ali rompeu-se o último elo entre Lula e Fábio.

Quem acompanha atentamente os discursos e as publicações do candidato Fábio, percebeu que há dois caminhos antagônicos sendo construídos. Um, de apatia com relação ao cenário nacional e outro de tentar colar, mesmo que tardiamente, sua imagem à de Lula. Esse último caminho é o mais acertado, porém, com todas as movimentações de Fábio, evidencia um oportunismo.

Fábio não se esforçou durante todo esse ano para alavancar a candidatura de Lula e, às vésperas do início da campanha, parece que percebeu o prejuízo que Bolsonaro causou, não ao Brasil, pois isso já era evidente, mas à sua campanha.

Agora, com um palanque repleto de bolsonaristas, inclusive na chapa majoritária, pode ser uma árdua tarefa mimetizar o lulismo.

Recentemente, em razão do dia internacional da juventude, a campanha lançou um clipe musical no qual emprega o discurso da pré-campanha como se fosse genuíno desse grupo. Com toalhas de Bolsonaro e Lula ao fundo, num sentimento de nem um nem outro, a jovem canta que “no matadouro de ideias, tentam me prender, mas eu tô vacinado, sei o que fazer”. Ufa.

No mesmo dia, filiando jovens egressos do PT ao seu partido, a juventude e o próprio Fábio, com uma mão fazia L de Lula e com a outra expunham os 5 dedos, em alusão ao número do PSD.

Esses detalhes demonstram duas visões distintas de como lidar com a eleição nacional na campanha e também que quem pensa a campanha parece não ouvir a juventude que compõe o PSD.

Como estratégia, parece mais vantajoso correr atrás do apoio de Lula, como Fábio tem começado a fazer com significativa intensidade. Porém, fazê-lo depois de declarar que não pediria voto para presidente soará como oportunismo político, sem genuína preocupação com os rumos da política nacional que tanto afeta a vida de todos brasileiros.

Na pesquisa realizada pela RealTime Big Data e divulgada no último dia 8 de agosto, ficou evidente que a máquina governista e sua grande rede de apoio não foram suficientes para superar a espontaneidade de Valmir ou o lulismo de Rogério Carvalho, restando a Fábio o terceiro lugar. Não é à toa que todos sinais vermelhos foram acionados na campanha do pessedista.

Sem os apaixonados discursos lulistas de Jackson Barreto, MDB, somado ao fato de Fábio não ter usado suas movimentações políticas para favorecer a campanha de Lula, faltará argumento para qualquer declaração que soe como apoio por parte de Lula, ou mesmo do seu candidato à vice. Restará ao marketing tentar consertar os erros de estratégia e tentar fazer o L de Lula parecer espontâneo.


*Originalmente publicado no portal JL política.

0 comentário
bottom of page