Desde o primeiro turno, os mais atentos à política já percebiam que Emília Corrêa (PL) despontava como a grande favorita. A conjuntura mostrava-se extremamente favorável à vereadora: além de herdar os eleitores desiludidos de Alessandro Vieira (MDB) e Danielle Garcia (MDB) e de contar com o apoio dos simpatizantes de Valmir de Francisquinho (PL) desde 2022, Emília ainda se beneficiou da alta rejeição do eleitorado aracajuano aos governos de Edvaldo Nogueira (PDT) e Fábio Mitidieri (PSD).
Curiosamente, houve um papel involuntário dos governistas na facilitação da sua vitória. A escolha de um candidato único para o grupo foi mal articulada, resultando em uma divisão de forças em três candidaturas distintas. Essa divisão pode ser explicada pela falta de expressividade do candidato do PDT, mas também pela ausência de habilidade política de Edvaldo e Fábio em unir suas bases. Assim, as três candidaturas foram às ruas em uma disputa fratricida que enfraqueceu o bloco governista.
Além disso, as gestões de Edvaldo e Fábio adotaram uma agenda de direita que incluiu ataques aos servidores públicos, sucateamento de serviços essenciais, terceirizações e privatizações, afastando ainda mais os sindicatos e servidores, que declararam publicamente que não apoiariam candidatos ligados a esses líderes.
Vale ressaltar que o bolsonarismo não é sustentado apenas pela pauta moral conservadora, mas também pela agenda de enfraquecimento do Estado — sendo esta última um desafio para a oposição, especialmente por contar com o respaldo da mídia dominante. Ambas as agendas estavam presentes entre os candidatos governistas.
A campanha de Luiz Roberto, por sua vez, falhou em estabelecer um contraponto ideológico claro em relação a Emília. Em vez disso, limitou-se a argumentar que ele tinha capacidade administrativa superior. A própria chapa de Luiz contava com um vice alinhado ao bolsonarismo e era apoiada por Laércio Oliveira (PP), o que dificultou qualquer tentativa de afastamento ideológico. Embora outras figuras tentassem criar essa diferenciação, a ausência de esforços do próprio candidato e de acenos ao campo progressista tornaram a estratégia pouco eficaz. Aracaju, inclusive, foi uma das poucas capitais onde Lula (PT) não participou do segundo turno.
Assim, Emília Corrêa tem motivos para creditar uma parte significativa de sua vitória aos erros estratégicos de seus adversários. Fábio e Edvaldo fortaleceram uma direita que imaginavam conquistar, adotaram pautas que afastaram a esquerda e, acreditando que o eleitorado progressista não teria opção, falharam em conquistar tanto a direita quanto a esquerda. O resultado foi a vitória de uma vereadora, sem um histórico eleitoral expressivo, contra duas poderosas máquinas governistas.