Uma das características mais marcantes do estilo político do governador Fábio Mitidieri (PSD) tem sido sua maneira "autêntica", porém agressiva, de responder aos questionamentos. Embora a autenticidade revele a verdadeira natureza de uma pessoa, no caso de Mitidieri, essa "autenticidade" evidencia um comportamento negativo, evidenciando sua incapacidade de lidar com críticas de forma elegante e respeitosa. Ao invés disso, o governador recorre frequentemente a termos e expressões que são indignos de quem ocupa um cargo de tamanha responsabilidade, especialmente em um estado como Sergipe.
Na última segunda-feira, durante uma cerimônia no Centro de Excelência Nelson Mandela, em Aracaju, Mitidieri mais uma vez expôs abertamente seu desrespeito, desta vez direcionado à classe do magistério. Enquanto discursava, o ambiente ao redor era marcado por faixas e cartazes de protesto do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica do Estado de Sergipe (SINTESE), representando os professores. Visivelmente incomodado, o governador proferiu palavras duras e desrespeitosas, que em qualquer circunstância seriam inaceitáveis, mas que, neste contexto, foram ainda mais graves, visto que se dirigiam aos profissionais responsáveis pela educação das futuras gerações.
"Trabalho todo dia, venho aqui entregar escola todo dia e, além de protestar por dinheiro, nunca vi vocês trabalhar", disse o governador. Se, de fato, entregasse uma escola por dia, como insinuou, Sergipe já teria centenas de novas instituições, e não apenas as 55 mencionadas em seu discurso. O tom do governador, carregado de desprezo e desdém, mostrou-se completamente incompatível com a deferência e o respeito que qualquer grupo social sergipano merece, especialmente os professores, que dedicam suas vidas à formação dos filhos da classe trabalhadora. Encerrando com a frase "quem não aguentar que se deite", Mitidieri reforçou seu discurso de desconsideração, destacando que "a educação de Sergipe merece respeito, muito mais do que certos que estão aqui hoje", o que gerou sorrisos tanto dele quanto do secretário de educação, Zezinho Sobral (PSB), evidenciando a falta de seriedade no trato com a situação.
Essa postura de mandar “deitar” quem não concorda com ele tem se tornado uma marca registrada do governador. Em várias ocasiões, Mitidieri acumulou declarações controversas que sugerem uma visão distorcida sobre o que é público e privado. Em abril, afirmou, de forma autoritária, que "a cor de Itabaiana é a cor que eu quiser". Recentemente, em Pedrinhas, disse que seus opositores deveriam deixar a cidade e referiu-se à Polícia Militar de Sergipe como "minha polícia". Em Boquim, após bradar os nomes e o sobrenome dos seus antepassados, exigiu agradecimentos pelo uso de recursos públicos: "Me agradeça pelo calçamento do seu povoado, me agradeça pelo asfalto... e se não aguentar, que se deite no sol do meio dia".
Essa "postura" revela um desrespeito não apenas aos professores e à educação, mas também a qualquer cidadão que ouse se opor ao seu governo. O respeito que o governador frequentemente exige deveria ser estendido àqueles que, no exercício de seu direito democrático, criticam sua gestão. O uso de expressões autoritárias e a depreciação de quem pensa diferente não apenas enfraquecem o debate público, mas também comprometem os princípios democráticos e a dignidade da autoridade que se espera de um governante.