O saudosismo dos tempos de outrora do PT é uma música recorrente de parte da esquerda sergipana, talvez porque naquela época o respeito ao partido falava mais alto do que as pessoalidades banais. Seria impensável, mesmo diante das disputas internas, que alguém traísse o que parecia ser o maior amor de todos: o PT.
Findado o primeiro turno, parte da militância do Partido dos Trabalhadores redescobriu sua voz e clamou pela necessidade de combater o bolsonarismo. Destaco aqui Márcio Macêdo, ministro do governo Lula, e Eliane Aquino, suplente de João Daniel na Câmara dos Deputados.
Durante todo o primeiro turno, ambos se ausentaram da campanha do próprio partido. Márcio, no entanto, chegou a tirar foto com a candidata do PT, Candisse Carvalho, e a participar de apenas uma carreata — mas foi. Eliane, por outro lado, em nenhum momento pediu voto aos aracajuanos para o PT, seja para vereadora ou prefeita, e no dia da eleição sequer usou adesivo ou fez menção ao partido.
A política filiada ao PT foi considerada pelo partido para disputar o cargo de prefeita, mas declinou justificando problemas de foro íntimo. Se não tinha condições de disputar, o mínimo esperado de alguém que recebeu 28 mil votos dos aracajuanos em 2022 era uma colaboração efetiva com a campanha do PT e o combate ao bolsonarismo, em respeito ao partido e aos eleitores que confiaram seus votos a ela.
Se Márcio e Eliane demonstraram desinteresse pela candidatura do partido, não demoraram para gravar vídeo em apoio à chapa do PDT e do PP, do grupo governista. Apesar da chapa também ser bolsonarista, o discurso foi de combate a essa nefasta ideologia e o voto não foi crítico; diria que foi como se o candidato fosse do próprio partido e fosse a escolha desde o primeiro turno.
É tudo constrangedor e lastimável, visto que o bolsonarismo não é novidade do segundo turno em Aracaju. Ele estava presente no primeiro turno nas chapas do PL, do PDT, do MDB e do União, e nenhum dos dois se esforçou para enfrentá-lo. Se considerarmos o empenho de ambos em combater o bolsonarismo, poderíamos muito bem ter duas chapas bolsonaristas no segundo turno em Aracaju... e, de fato, temos.