A 22ª Parada LGBT+ de Sergipe irá tomar a orla de Aracaju no próximo domingo, 27 de agosto. O evento é tradição do movimento LGBT+ e, neste ano, tem como tema o "Movimento por melhores políticas públicas". Apesar da importância do evento, a organização reclama de falta de estrutura.
Em comunicado nas redes sociais da ASTRA LGBT, a coordenadora da Parada, Tathiane Araújo, relata que, há poucos dias da realização, ainda há indefinição por parte do governo do estado de Sergipe sobre o cumprimento das demandas pactuadas para que o evento possa acontecer.
A publicação informa que mais de 80% das demandas firmadas com o governo de Fábio Mitidieri (PSD) continuam sem resposta, o que foi entendido como constrangedor e reflexo do descaso sofrido pela organização desde o início de julho. Ainda segundo a publicação, mesmo que o apoio se concretize, será o menor apoio do governo do estado desde 2009.
“Essa situação prática demonstra o retrocesso que estamos enfrentando, mesmo com ações históricas e consolidadas como a Parada LGBT, que já faz parte do calendário cultural de Aracaju há mais de duas décadas, tendo sido aprovada como lei”, diz a nota.
A Parada é um evento que ocorre há mais de 22 anos e possui um rito consolidado e amadurecido, com um cronograma de organização que garante aos órgãos públicos a capacidade de organização. “A polícia e a SMTT, todos esses órgãos de necessidade de organização de trânsito, de segurança, de patrimônio público, são oficiados com mais de 90 dias de antecedência. Quando também solicitamos audiências com as demais pastas”, informa Tathiane ao Sergipense.
A coordenadora ainda identifica que a dificuldade não é uniforme em todo governo: “na Secretaria de Segurança Pública do governo já está tudo resolvido, porque já há um rito com o secretário João Eloy, que tem o conhecimento da importância que é a Parada. Nas outras pastas, fica cada vez mais confuso porque não há muitas das vezes nesse gestor a compreensão e, além da compreensão, até de saber como são realizadas essas pactuações com movimentos sociais e com instituições da sociedade civil organizada”.
A escolha do tema pareceu prever o que aconteceria na construção da parada. O tema deste ano evidencia a necessidade de políticas públicas sólidas e capazes de atender às diversas necessidades da comunidade. Como o governo Mitidieri trata essa luta explicita o viés conservador que está no poder em Sergipe.
O mesmo governo que trata com desatenção às demandas da militância LGBT+ sergipana é o mesmo que financia shows evangélicos e que coloca dentro das escolas públicas coachs que tentam convencer nossos estudantes de que depressão é “falta de Deus”. Para esse tipo de projeto político parece ser mais vantajoso andar distante de quem luta por respeito à diversidade.
O que a Astra, entidade que atua na defesa dos direitos humanos e LGBT+, relata corrobora a postura transfóbica vista recentemente por parte do governo do estado de Sergipe, especificamente na secretaria de educação, comandada pelo vice-governador Zezinho Sobral (PDT). Uma aluna trans foi impedida de participar dos Jogos de Primavera no time feminino, sendo constrangida a participar do time masculino. A atitude do governo levou a deputada estadual Linda Brasil (PSOL) a acionar a justiça no sentido de garantir o direito da estudante à dignidade.
Tathiane Araújo também identifica que as problemáticas enfrentadas na organização da Parada podem ser vistas na forma como a questão dos direitos humanos é entendida no governo Mitidieri. Segundo ela, “falta estruturação da política de direitos humanos, que sofre com esvaziamento na estrutura do Governo do Estado. Nós tínhamos uma Secretaria de Direitos Humanos instituída por Deda, que foi definhando nos governos posteriores com Jackson Barreto [MDB] e Belivaldo Chagas [PSD] e agora foi enterrada pelo governador que, de forma confusa, retirou os cargos dos Direitos Humanos para montar uma Secretaria Especial de Política para as Mulheres”.
Tathiane se aprofunda no tema refletindo que o governo abriu mão da estrutura dos direitos humanos para sustentar a pauta das mulheres, o que é confuso, pois, “numa pauta ele avança a leva uma secretaria e na outra pauta, tão importante e anterior na gestão, ele retrocede”.
A ativista ainda alerta que os direitos humanos não possuem mais estrutura de diretoria ou coordenação e que a política para esse tema andam “sem nenhum direcionamento, abandonado dentro da política de assistência social, que não é uma política para sediar os direitos humanos, muito menos deixando a pauta sem recurso e dependendo das migalhas ou da visão muitas vezes assistencialista dessa pasta”.
Durante a eleição de 2022, o então candidato Fábio Mitidieri foi em comitiva para o evento, buscando construir uma imagem de aliado da comunidade LGBT+. A ida de Fábio Mitidieri ao evento foi amplamente explorada, mas, após eleito, a postura de descaso com o evento pode ser compreendida como uma forma de “estelionato eleitoral” ou mera busca pelo “pink voto”.
A Parada LGBT+ de Sergipe é um evento tradicional do nosso povo e necessário para lançar luz às necessidades da comunidade. É lamentável que um governo que, para se eleger, usou da Parada para promoção política não tenha compreendido minimamente a importância deste evento para o povo sergipano.