A disparidade entre homens e mulheres na participação política é um problema histórico e persistente em todo o mundo, com impactos negativos na democracia popular e no desenvolvimento social. A sub-representação das mulheres nos espaços de poder político limita a representação da sociedade como um todo e impede o avanço de políticas públicas que considerem as necessidades e prioridades de todas as pessoas.
A participação das mulheres na política brasileira, apesar de avanços nas últimas décadas, ainda enfrenta desafios consideráveis. A Lei nº 9.504/1997, que determina uma cota mínima de 30% de candidaturas femininas, representou um marco legal importante. No entanto, a realidade das mulheres nos partidos políticos revela um cenário de subfinanciamento, dificultando seu acesso a recursos e impactando negativamente suas chances de êxito nas eleições.
Na sociedade em geral, sofrem com a violência política de gênero, em ataques verbais, ameaças e até mesmo violência física pelo motivo de estarem candidatas ou ocupando um cargo eletivo e, com estereótipos de gênero, que associam as mulheres a determinados papeis sociais e dificultam seu reconhecimento como líderes políticas.
Para além das dificuldades inerentes à candidatura feminina, a disputa se torna ainda mais árdua para mulheres que defendem agendas específicas, como a defesa da classe trabalhadora. As barreiras já existentes se intensificam, criando um cenário ainda mais desafiador para sua participação política.
Convém apontar que a nossa sociedade patriarcal e capitalista privilegia os interesses do capital e de grupos hegemônicos, relegando a segundo plano as demandas de minorias sociais. A defesa por um Estado mínimo, muitas vezes propagada, ignora as disparidades históricas e estruturais que persistem em nosso país. A construção de um Estado forte, capaz de implementar políticas públicas eficazes, é fundamental para reduzir desigualdades como machismo, racismo, LGBTfobia, xenofobia, capacitismo e etarismo.
Portanto, as mulheres que defendem a classe trabalhadora representam a voz de milhões de pessoas historicamente silenciadas e excluídas dos processos decisórios. Sua presença nos espaços de poder é crucial para construir políticas públicas que atendam às reais necessidades da população, especialmente de tais grupos minoritários que frequentemente têm suas demandas ignoradas.
Dito isso, é importante reconhecer a interseccionalidade das lutas das mulheres. As necessidades de uma mulher branca rica são diferentes das necessidades de mulheres pobres, negras, da periferia, entre outras.
Ser mulher não garante, por si só, a capacidade de representar os interesses da classe trabalhadora. É fundamental que as candidatas demonstrem um compromisso real com as lutas e as necessidades das mulheres trabalhadoras, reconhecendo e incorporando em suas agendas a complexidade das desigualdades que impactam a vida de cada grupo de mulher, considerando a sua raça, classe social, religião, idade, sexualidade e condições físicas e de saúde mental.
É possível considerar como exemplos, algumas pautas cruciais que essas mulheres devem defender: combate à precarização do trabalho, ampliação do acesso à educação e saúde, igualdade salarial, combate à violência doméstica, incentivo a participação de mulheres diversas na tomada de decisões, defesa dos direitos humanos, direito à moradia digna e saneamento básico, acesso à cultura, incentivo à preservação ambiental, entre outras.
Se faz necessário ter em mente que a dignidade da pessoa humana é princípio fundamental que deve nortear as ações do Estado, assegurando o respeito e a proteção dos direitos de todas, todos e todes. Sendo, a eleição de mulheres, que defendem a agenda da classe trabalhadora, fundamental para construir um futuro mais justo, igualitário e democrático. Através da sua representação, priorizam pautas relevantes, combatem a interseccionalidade das opressões e empoderam outras mulheres, contribuindo significativamente para o desenvolvimento da sociedade.
Diante do cenário atual, é crucial que, neste ano, analisemos com atenção os projetos políticos das candidaturas femininas, tanto para o Poder Executivo quanto para o Legislativo. É fundamental eleger mulheres que se identifiquem com a realidade da mulher trabalhadora e, mais do que isso, que representem a classe que sustenta a sociedade: a classe trabalhadora.