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Foto do escritorAndré Carvalho

A força e a coragem da minha vida avó Lurdinha valem um 8 de março

Atualizado: 15 de fev. de 2023



Em Itabaiana aprendi com as mulheres da família a vencer a vida, sem sucumbir aos obstáculos que surgem. Contrariando o que tentam dizer sobre como são as mulheres, elas foram e são o que precisam ser.

Antes da primeira vitória de Luciano Bispo à Prefeitura de Itabaiana, minha avó, Lourdes, já desafiava o que fosse preciso para apoiar o projeto político que acreditava ser melhor para sua cidade. Uma mulher analfabeta, pobre e que aprendeu que a coragem é a maior arma que se pode portar.

Num cenário de medo, onde alguns eram rechaçados duramente por demonstrar seu voto, ela vestia a camisa do seu candidato e não mudava seu trajeto para evitar o comício dos adversários. Diferentemente do que acontecia com outros, ninguém mexia com ela e com as crias que sempre a acompanhavam.

Minha mãe conta que um dia passava por sua porta uma grandiosa carreata do agrupamento adversário e um vizinho gritou o nome do candidato ao governo do grupo que minha avó apoiava. Um homem veio furioso agredir meu avô, Zé Pinto, pensando que tinha sido ele a provocar.

Minha avó passou à frente do marido e deixou o agressor sem camisa e ainda disse “se for homem venha no murro, sem sua arma”. A filha do líder político acalmou o homem e seguiram com a carreata.

Esse caso mostra a força de enfrentar o mundo pelo que acredita, e é o que tenho pra mim como mulher. Situações como essa e de tentativa de agressões foram recorrentes na história de vida de minha avó materna, que além de mulher era extremamente pobre. Em todas essas tentativas, quem tentou diminui-la perdeu.

Mas lutar uma vida inteira contra o machismo, a pobreza e pele criação de cinco filhos deixou marcas. Minha avó não se permitia ser frágil, não se permitia baixar a guarda para que o mundo tivesse oportunidade de vencê-la. Demorou para que cedesse aos abraços e beijos do neto aqui, sem ficar desconfortável. Minha mãe, assim como minha avó, trabalhou em atividades que eram tidas como de homem e precisou se esforçar para ser melhor que nós homens, nunca bastava ser igualmente competente.

Na roça, minha avó recebia metade do que pagavam a um homem, mesmo trabalhando tanto quanto ou até mais que eles, segundo minha mãe. Mas com fome ninguém tem direito - com fome e com filhos ainda menos.

Nessa semana, onde parabenizamos as mulheres, decidi contar um pouco da vida de Lurdinha, minha saudosa avó. Ela e minha mãe são exemplos práticos de como o machismo dificulta a vida das mulheres. Precisamos todos lutar por uma sociedade na qual mulheres como minha avó não precisem lutar tanto para conseguir menos do que um homem.

Já é sabido por todos essas dificuldades e, por isso, em vez de parabéns, precisamos de autocrítica e mudança nas empresas, na política e em todo e qualquer espaço em que ser mulher signifique obstáculo.

Sou homem, mas faço questão de escrever isso no lugar de minha avó, que nem direito a estudar teve. E o faço para que nem a morte consiga calar a sua voz!


*Originalmente publicado no portal JL política.



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