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A face antidemocrática do gabinete de Linda Brasil

Foto: assessoria

A deputada estadual Linda Brasil (PSOL) foi eleita em 2022 para o mandato que exerce hoje com um forte sentimento de setores progressistas, em especial da comunidade LGBT+, de que sua eleição tornaria a luta coletiva mais forte. Entretanto, o passar dos meses demonstra que a vitória foi realmente coletiva, mas a ação é individual e fechada ao mais básico questionamento.


Esse texto se destina a expor ao público do Sergipense o viés antidemocrático do gabinete da deputada Linda Brasil. O apreço à democracia que ocupou os discursos da deputada não encontra nas práticas diárias do seu mandato sustentação. O mandato de Linda Brasil foi conquistado com a esperança de uma parcela da sociedade que ansiava por ampliação democrática através da diversidade e da prática política, porém, o decorrer do tempo tem substituído a alegria pelo incômodo. 


Este que aqui escreve, nela votou e cobrou o partido que aumentasse o financiamento de sua campanha, e se decepcionou quando no segundo turno a parlamentar decidiu não seguir a decisão do PSOL em apoiar o candidato do PT e gravou um vídeo se dizendo neutra, mas criticando o candidato petista. À época, lamentei o posicionamento porque representava a perda de uma janela de oportunidade à causa LGBT+ de firmar compromissos programáticos e fortalecer a esquerda sergipana.


Ao longo do ano, elogiei Linda por diversas vezes, sem esperar ou receber qualquer tipo de agradecimento da parlamentar. As críticas, sempre no campo político e nunca pessoal, recebiam de pronto ataques de seus assessores, pagos com recursos públicos para auxiliarem a deputada a conseguir melhor representar o povo, não para nos atacar.


Já em fevereiro, comecei a prestar atenção nas reclamações acerca de bloqueios que o perfil da deputada fazia em relação a quem a criticou. Em junho, lamentei que a parlamentar tivesse apresentado e aprovado um desnecessário e negativo projeto de lei que transformou o dia de combate à homofobia em dia de combate à lgbtfobia, por entender não ser positivo apagar o dia que marcava a retirada do termo “homossexualidade” do Código Internacional de Doenças em 1990.


Na ocasião, outros cidadãos questionaram e foram bloqueados pela parlamentar no twitter, muitos por discordarem da mudança, outros tiveram seus comentários ocultados. A equipe parlamentar, em seus respectivos perfis pessoais, saiu para o ataque aos que a criticavam. Na época alertei: “Essa postura caminha na contramão do debate republicano. Política não é monólogo, aprender a lidar com o divergente é fundamental!”.


Poucos dias após, Brunna Nunes, ex-assessora da parlamentar, divulgou sua saída do mandato, denunciando gravíssimas situações de assédio por parte de integrantes do mandato e da própria parlamentar que, supostamente, teria enfrentado. Em entrevista à rádio Fan, Linda reagiu rindo em alguns momentos, afirmando que a denúncia era apenas para “causar” e que o motivo seria que ex-assessora ganharia mais na prostituição.


Nas denúncias de Brunna, consta que não havia no mandato espaço para divergências, pois, quem o fizesse, seria lido como inimigo. A resposta imediata da parlamentar incomodou, dentre muitas coisas, por colocar Brunna num espaço negativo em que a sociedade costuma colocar corpos trans.


No mês de novembro, critiquei a parlamentar quando, em entrevista à Rio FM, afirmou que a única explicação para que escolhessem outro nome para concorrer pelo PSOL à prefeitura de Aracaju seria transfobia. A acusação grave, levantada de forma banal, esvazia a causa e macula o debate no partido. Caso Niully Campos seja preterida, seria ruim, por exemplo, acusar seus correligionários de racismo caso não tenha nada que sustente a acusação.


Em reação à minha crítica, pelo menos dois assessores da deputada usaram termos como “gay”, “cis” e “branco” para tentar desqualificar minhas colocações. Ambos tentaram, como de costume, associar a crítica política à transfobia, ignorando os elogios que recorrentemente são feitos e o voto dado na urna. Além disso, houve ataques a Niully Campos, colocando a militante como um mero instrumento político para homens. 


No último episódio, a partir de um debate com a jornalista Gleice Queiroz acerca da desvalorização e apagamento da mídia sergipana independente, questionei o uso pela deputada de uma matéria do Sergipense que abordou o fato de o Banese não ter patrocinado o FASC e ter investido R$280mil no Pré-caju. Em sua fala, sem os devidos créditos, a parlamentar resumiu a fonte a “soube numa matéria”.


Como resposta, a parlamentar, de forma desrespeitosa, enviou apenas o link de uma matéria que se baseou no trabalho do Sergipense, também sem creditá-lo. Sabendo de tudo isso, a deputada fez um post no qual colocava a matéria, que sabia ser plágio, acrescentando que foi “apuração” da assessoria dela. Esse episódio rendeu ataques de assessores, com destaque ao jornalista responsável pela comunicação do mandato.


O cargo comissionado da deputada Linda Brasil, de forma vil, tentou colocar em cheque minha formação, se referindo a mim como “cientista político” - entre aspas. Em um texto extenso e obtuso, justifica o erro do portal que copiou sem créditos por, no entendimento dele, ser “a dinâmica colaborativa inerente ao jornalismo contemporâneo”.


Contradizendo as aspas postas em cientista político, o assessor ameaçou denunciar-me ao sindicato dos jornalistas, numa tentativa antidemocrática e obscura de silenciar aquele que não consegue dominar. Com o amargor de quem não viu nas minhas palavras o eco dos seus devaneios, ignora o meu direito e dever de falar sobre política.


Para me salvaguardar de ameaças antidemocráticas, possuo DRT, mas nunca assinei nada como jornalista. Sou cientista político, diploma conquistado com muito esforço na UnB. A partir desse acúmulo, contribuo, sob constantes ataques, para o debate político da minha terra.


Os ataques baixos advindos do gabinete de Linda Brasil são de seu conhecimento. Em todas ocasiões encaminhei para a parlamentar os ataques, sem em nenhuma ocasião receber qualquer tipo de retorno. Os ataques aqui descritos são uma pequena parte das diversas agressões e ofensas do gabinete da psolista.


Por mais importante que seja um mandato como o de Linda Brasil, ela e sua equipe não podem confundir a representatividade com salvaguarda para atacar a democracia e lançar mão de métodos incompatíveis com a bandeira que o mandato diz levantar. Concluo com um recado: não há no meu trabalho espaço para temer o desespero dos antidemocratas, sejam eles de qual espectro for.


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