Desastres como o que assistimos no Rio Grande do Sul alertam para a necessidade de o país se preparar para lidar com catástrofes ambientais. Segundo dados da Confederação Nacional de Municípios (CNM), nos últimos 10 anos, cerca de 93% dos municípios brasileiros sofreram desastres naturais decorrentes do tempo, mais de 4,2 milhões de pessoas tiveram que sair de suas casas. Em Sergipe, 54 municípios precisam se preparar para lidar com possíveis ocorrências decorrentes de mudanças climáticas.
Segundo dados da Plataforma AdaptaBrasil, desenvolvida Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), 54 municípios sergipanos possuem índice de risco médio (37), alto (13) ou muito alto (4) para inundações, enxurradas e alagamentos. Propriá, Santo Amaro das Brotas, Nossa Senhora do Socorro e Laranjeiras apresentam maiores riscos pela menor capacidade de responder, prevenir e se adaptar aos eventos.
A plataforma também mede risco de deslizamento de terra, apresentando 40 municípios sergipanos com índice de risco médio (26), alto (10) ou muito alto (4). Estância, Nossa Senhora do Socorro, Laranjeiras e Santo Amaro das Brotas são as mais preocupantes.
Para os dois eventos climáticos, a plataforma considera Aracaju com um risco médio por entender que o município possui boas condições de lidar com possíveis fenômenos. Porém, a capital possui índices muito altos de exposição da população e ameaça de ocorrências.
Na média dos índices, que vai de 0 a 1, Aracaju aparece com risco geral médio (0,55) por ter um índice muito baixo (0,10) no quesito Vulnerabilidade, que considera saneamento básico, mobilidade urbana, proteção ambiental e outros aspectos que auxiliam as cidades a lidar com desastres provocados pelas mudanças climáticas. Entretanto, a capital apresenta índices muito altos de Ameaça (0,82) e Exposição (0,94) a inundações, enxurradas e alagamentos.
As características topográficas, geológicas e as intervenções humanas da capital a colocam numa situação de risco muito alto para lidar com altos volumes de água. A deficiência de Aracaju em lidar com águas pluviais já perceptível no dia a dia da cidade. Simples chuvas já são suficientes para alagar ruas e trazer transtornos à população.
Além disso, segundo a plataforma, considerando densidade demográfica e moradias em áreas com potencial de impacto por esses desastres, Aracaju é uma cidade com população (65% da densidade demográfica) e residências (35%) muito expostas a desastres geo-hidrológicos, como deslizamentos de terra e inundações.
Enquanto isso, a cidade vive em expansão desordenada, privilegiando o interesse do mercado imobiliário sem o necessário respeito ao meio ambiente. Aracaju ainda aterra seus mangues, cobre seus cursos d’água e destrói áreas de mata fundamentais para a prevenção de alagamentos.
Apesar dos investimentos que o prefeito Edvaldo Nogueira (PDT) anunciou em infraestrutura, eles se darão sem o guia de um Plano Diretor capaz de levar Aracaju para um desenvolvimento seguro e sustentável — a última atualização do Plano Diretor se deu em 1995. É fundamental que a população esteja atenta neste ano para a necessidade de construir uma cidade que garanta segurança aos cidadãos com as mudanças climáticas que se anunciam.
Nossa Senhora do Socorro
Nossa Senhora do Socorro é uma das cidades que apresenta índice médio muito alto (0,81) em relação a inundações, enxurradas e alagamentos, o que se repete em relação a deslizamento de terra (0,85). A condição da cidade se diferencia da capital principalmente no que se refere a capacidade de lidar e se adaptar com eventuais desastres, sendo muito menor em Nossa Senhora do Socorro.
Entendendo os índices da AdaptaBrasil
Para a formação do índice, a plataforma considera características sociológicas, geomorfológicas, geológicas e climáticas. Compõem o cálculo três índices: Vulnerabilidade, Exposição e Ameaça.
Índice de Vulnerabilidade mede a capacidade que esses desastres possuem de afetar o sistema socioecológico do município e a capacidade de adaptação do lugar. Dados como renda, educação, saneamento básico, mobilidade urbana, sistema de alerta, investimento em política de adaptação e infraestrutura para proteção ambiental, legislação de zoneamento, gestão de resíduos e outros, compõem o índice. Dos três aspectos que compõem o índice, esse é o único no qual Aracaju aparece positivamente, como muito baixo (0,10). Em Sergipe, apenas Monte Alegre, Brejo Grande e Tomar do Gero aparecem com índice muito alto.
No índice de Ameaça de inundações, enxurradas e alagamentos, Aracaju aparece com número muito alto. O número considera características “topográficas (altitude, declividade, aspecto, curvatura vertical, curvatura horizontal, acúmulo de fluxo), geológicas (tipo de solo, distância dos rios), fatores humanos (cobertura e uso do solo) e as características meteorológicas”. Numa escala que vai até 1, Aracaju marca 0,82 com tendência leve de aumento até 2030.
Além de Aracaju, Itabaiana, Campo do Brito, Lagarto, Riachão do Dantas, Santo Amaro das Brotas, Laranjeiras, Nossa Senhora do Socorro, São Cristóvão, Itaporanga D'Ajuda e Estância apresentam índice muito alto de ameaça de inundações, enxurradas e alagamentos decorrentes das mudanças climáticas. Barra dos Coqueiros, que possui índice alto, chegará ao nível muito alto até 2030.
Índice de Exposição, medido pela Plataforma Adapta, avalia o possível contato da população e das moradias com possíveis desastres geo-hidrológicos, como deslizamento de terra e inundações, enxurradas e alagamentos. Ou seja, considera moradias e densidade demográfica em localidades com potencial de impacto por esses desastres decorrentes da mudança climática. Novamente, Aracaju apresenta índice muito alto (0,94), 65% da densidade da população em áreas urbanizadas e 35% dos domicílios estão em área de potencial risco. Nesse indicador, a Plataforma não faz projeções para 2030. Nossa Senhora do Socorro, Propriá, Amparo de São Francisco e Riachuelo também são apontados pela Plataforma como cidades com índice muito alto de Exposição a desastres.
Sobre o AdaptaBrasil
É uma plataforma desenvolvida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em conjunto com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a Rede Nacional de Pesquisa (RNP). O objetivo da plataforma é subsidiar decisões sobre planejamento e adaptação em relação às mudanças climáticas.